Tecnologia como aliada para uma educação mais inclusiva
As tecnologias assistivas têm um papel crucial na promoção da inclusão e na redução de desigualdades. Elas não apenas atendem a necessidades específicas de indivíduos, mas também têm o potencial de quebrar barreiras sociais e econômicas. Frente a essa realidade, as pesquisadoras Anna Cláudia dos Santos Nobre e Vitória Geovanna de Assis Pereira, respectivamente, professora e aluna do curso do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação do Ceres/UFRN, decidiram levar adiante uma revisão sistemática de teses e dissertações brasileiras sobre o uso de softwares e hardwares na educação pública inclusiva.
Ao analisar 18 estudos acadêmicos – sendo 12 dissertações de mestrado e 6 teses de doutorado –, a investigação apontou como a implementação dessas tecnologias pode ser decisiva para garantir os princípios constitucionais de igualdade e dignidade. “Ao integrar essas ferramentas no ambiente escolar, é possível apoiar estudantes com diversas necessidades, garantindo que todos tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento”, ressalta um trecho da análise que acaba de virar capítulo do livro Tecnologias Digitais na Educação – Dos limites às possibilidades – vol. 8, organizado por Cleber Bianchessi.

A pesquisa de Vitória Geovanna enfatiza a importância de integrar essas ferramentas às práticas pedagógicas e à formação docente, fomentando a criação de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo. Além disso, sugere que estudos futuros investiguem a percepção de professores, alunos e da sociedade sobre os recursos tecnológicos, buscando melhorias contínuas. Entre as tecnologias analisadas estão softwares como o Geometrix, que beneficia alunos com deficiência visual; o Papado, utilizado no ensino de crianças com síndrome de Down; e ferramentas de comunicação alternativa que ampliam habilidades cognitivas e comunicativas de estudantes com deficiência física. Essas soluções tecnológicas não apenas proporcionam inclusão, mas também tornam o processo de ensino-aprendizagem mais acessível e eficiente em escolas públicas de ensino básico.
Anna Cláudia destaca que o tema abordado no capítulo é profundamente significativo, pois dialoga diretamente com a vivência prática da aluna. “Vitória, que possui necessidades específicas e é assistida pela Secretaria de Inclusão e Acessibilidade (SIA) da UFRN, transforma suas experiências pessoais em pesquisa aplicada, tornando seu trabalho ainda mais relevante para a construção de um ambiente educacional mais acessível e inclusivo”.

A publicação, de acordo com a professora Anna Cláudia, representa um marco importante na pesquisa acadêmica e também na luta pela inclusão digital e educacional. “Em uma área predominantemente masculina, Vitória se destaca como uma pesquisadora comprometida, trazendo uma perspectiva inovadora e necessária sobre acessibilidade e tecnologia assistiva”, ressalta. Além disso, a professora ressalta o impacto duradouro da publicação, que pode servir de base para outros pesquisadores interessados na interseção entre tecnologia e inclusão. Segundo ela, o mapeamento de teses e dissertações brasileiras sobre o tema oferece um panorama valioso para estudos futuros, auxiliando na formulação de políticas públicas e no desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas para a acessibilidade na educação pública.
Entrevista – Vitória Geovanna de Assis Pereira

Por que a escolha do tema?
Eu escolhi esse tema porque tem uma grande relevância para a minha vivência pessoal. Desde que eu enfrentei os desafios de conviver com uma deficiência, percebi como as tecnologias assistivas podem transformar a vida das pessoas, proporcionando mais independência e acessibilidade. No entanto, no meu caso, não tive acesso adequado a essas tecnologias, o que tornou ainda mais difícil a realização de tarefas cotidianas e a participação plena no espaço escolar.
Como acha que essa pesquisa pode impactar a vida de pessoas que passam pelas mesmas dificuldades?
Acredito que a minha pesquisa pode ser muito útil para educadores, gestores e outras pessoas envolvidas no processo educacional. Ao abordar a falta de acesso às tecnologias assistivas nas escolas e como isso impacta diretamente a inclusão de alunos com deficiência, meu estudo pode ajudar a sensibilizar e informar esses profissionais sobre a importância de incorporar essas ferramentas no ambiente escolar. Isso pode, por sua vez, gerar mudanças significativas na forma como as escolas atendem alunos com necessidades específicas.
Além disso, a pesquisa pode servir como base para a implementação de políticas mais eficazes e práticas pedagógicas que priorizem a inclusão, proporcionando aos alunos com deficiência as mesmas oportunidades de aprendizado que os demais. Ao destacar os benefícios das tecnologias assistivas, minha pesquisa tem o potencial de impactar diretamente a vida de muitas pessoas com deficiência, criando um ambiente mais acessível, equitativo e justo, o que pode refletir positivamente no desenvolvimento escolar e social desses alunos.
Fonte: Agecom/UFRN; Texto: Vilma Torres; Fotografia: Arquivo pessoal/cedidas; Revisão: Ana Byatriz Moreira